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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Trabalho em suspenso, oficina do diálogo -- Paula Justen

Fim de greve, a vida voltando aos seus eixos. Quatro longos meses de tensão e expectativa de volta iminente às aulas, sem saber quando o drama dos trabalhos deixados para depois ia finalmente explodir.

Quatro meses de militância. Há anos não se via um movimento grevista tão forte e com tanta adesão. Tapa na cara de quem diz que greve não cabe à universidade. Mesmo para aqueles que não foram com freqüência às ruas, não foram meses de corpo mole, meras férias de tempo indeterminado. Era árdua a tarefa convencer os familiares, amigos e quem mais aparecesse para falar sobre a greve de que a causa era, sim, justa e que a greve era, sim, necessária. Que eu não me importava de ter que ter aula enquanto todos estivessem de férias. Que a luta era maior que os meus planos de viagem no verão. Explicar com paciência o porquê da greve, mesmo diante dos olhares de pena de quem só pensa que professor é vagabundo e não quer trabalhar. Cansa, mas paciência é uma virtude, principalmente quando se quer argumentar e convencer.

A cada universidade que aderia, um grito de vitória. Mais um mês sem aula e o governo sem dar sinal. Manifestações, até protesto em Brasília. Quem disse que o movimento estudantil morreu? Mas nada. Dilma conhece sindicatos, os grevistas, sabe como uma greve funciona. Decidiu ganhar da forma mais covarde e simbólica: pelo cansaço.

Lá pelo segundo mês, o furor das adesões foi dissipando. A greve preocupa, e muito, mas a falta de resposta do outro lado desanima. E todo mundo se dá conta de que ela iria durar. Com o final ao longe, a gente se permite a muitas coisas. Ao tédio, para começar. Já não há clima para estudo, todas as promessas de terminar os trabalhos o quanto antes são como resoluções de Ano Novo. Não, hoje eu vou ler aquele capí... – haha, tem aquele episódio de Friends que o Joe tenta falar francês... É, acho que vou rever a temporada inteira... Ops.

E tem o ponto de saturação. A greve dura demais. Momento perigoso. Ninguém agüenta mais ficar em casa, nessa vida em suspenso, nessa indefinição que agonia (e dá fome. Muita fome). Até agora só os estudantes e professores se prejudicavam, o governo mantinha a indiferença absoluta. Valia a pena manter a luta quando o nosso alvo simplesmente nos esnobava como meras moscas, tentando tirar a legitimidade do movimento nos tratando como irrelevantes...? Peraí. Hora de botar os pingos nos ii. A duração da greve não era culpa dos grevistas, mas da ilustre presidenta que se recusava a negociar.

O triste era ter que se obrigar a lembrar disso o tempo todo.

Mais um mês. Dona Dilma não cede. No fundo, todo mundo já sabia que era o fim. Para alguém que governa o país como uma empresária, buscando sempre o desenvolvimento do país através de números, a greve é só um mero estorvo. Dane-se se é uma reivindicação de classe, dane-se se o povo tem necessidades. O país deve crescer, não há tempo para greve. Corta-se o mal pela raiz: afinal, o mal nem existe, o governo já negociara com o sindicato. Legítimo ou não, isso é outra história.

Mas a greve tem que ser levada até o fim. Questão moral, não se pode desistir sem ter nenhum ganho real. Questão de orgulho. O gosto da derrota é amargo demais para se admitir que nada mais saía da Dama de Ferro. O ponto final já estava dado, mas o movimento insistia em reticências, até não dar mais.

Falei derrota, mas peço perdão. A verdade é que toda mobilização em si já é uma vitória. A greve foi discutida em um nível que nunca houve antes, e se nenhuma reivindicação foi ouvida, é caso para se pensar em que tipo de governo está sendo feito no país atualmente. Um governo macro-negócio, ao invés de um governo humano. A greve em si já é uma vitória por tirar do marasmo e da zona de conforto, sair do lugar comum. A greve é por excelência um espaço de discussão e reflexão, muito maior e mais dinâmico do que a nossa Academia em vão se acha.

Que o verão tenha piedade de nós. ●

Paula Justen é graduanda em História pela UFF

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